Árcades Medos
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Nesta difícil tarefa de ir do medo ao texto, ressabiado exumo os medos de outras cercanias, onde desde cedo fui assíduo freguês. Saudosos aqueles medos quando a pesca de piaba era feita com juquiá, diferentemente dos assombros que aqui vimos gritar. Os medos que lá consumíamos nos ajudavam a criar, arte, fantasias e sonhos que apenas restaram para contar. Aqueles bem-fazentes temores que nos deixavam mais contentes a cada despertar, não surgiam de assalto nem de bandos, tampouco de vizinhos que eram como se parentes.
Do boitatá e do saci foram os primeiros medos que consumi, depois o da mãe d’água, o da mula sem cabeça e o do lobisomem. Conforme ia crescendo, o medo outro rumo ia tomando até chegar nos fantasmas dos vivos conhecidos que morriam de velhice, que escondidos no escuro debaixo de nossas camas, faziam a gente correr pra nosso refúgio protetor, sob um amplo cobertor.
Tirando o bicho papão escondido no velho apagão, para demais temores sempre havia solução. Para o medo da inveja, mal olhado e quebranto a gente sempre se valia, além de muita oração, d´um banho de alecrim silvestre com folhas de guararema e ai, era o medo quem se amedrontava.
Até mesmo os papa-fumos, que sobrevoavam as vertentes, me eram medonhos, quando, sob um sol escaldante que ainda não se temia, a gente ia buscar água para beber e dar de beber às cabras.
Da morte medo não havia, pois a coisa que se matava era a fome com taioba e mostarda brotadas do excremento que dos passarinhos caiam. Outras coisas se compravam, não se roubava e vendia; o pecado da cobiça e escassezes eram medos que ninguém lá conhecia.
Medos que mães sentiam eram da infância doençaria. Sarampo, febre alta e coqueluche que, para a proteção, recorriam aos chás das folhas de laranja da china e da cidreira, ao caldo de galinha e às benzedeiras; era com essa milagraria que as mães nos defendiam. Dos venenos que mais elas temiam eram o da picada de cobra e o dos frutos que os filhos comiam, como arrebenta-cavalo e do mato outras porcarias.
Com os perigos bem vigiados e com o futuro por Deus garantido, o pior de todos os medos era o da vara de marmelo, quando boa coça se levava se em confusão a gente se metia. Meu mundaréu de medo de outrora não dou, nem vendo ou troco por este pavor de agora; por este ódio de gente que dispara a besteira da ganância e da vingança brutal, que nos vitima e nos responsabiliza por sua deformação ancestral, suas deficiências mental, ética e social.
Publicado com imagem em:
Pote de Poesias
e Ecos da Poesia
Do boitatá e do saci foram os primeiros medos que consumi, depois o da mãe d’água, o da mula sem cabeça e o do lobisomem. Conforme ia crescendo, o medo outro rumo ia tomando até chegar nos fantasmas dos vivos conhecidos que morriam de velhice, que escondidos no escuro debaixo de nossas camas, faziam a gente correr pra nosso refúgio protetor, sob um amplo cobertor.
Tirando o bicho papão escondido no velho apagão, para demais temores sempre havia solução. Para o medo da inveja, mal olhado e quebranto a gente sempre se valia, além de muita oração, d´um banho de alecrim silvestre com folhas de guararema e ai, era o medo quem se amedrontava.
Até mesmo os papa-fumos, que sobrevoavam as vertentes, me eram medonhos, quando, sob um sol escaldante que ainda não se temia, a gente ia buscar água para beber e dar de beber às cabras.
Da morte medo não havia, pois a coisa que se matava era a fome com taioba e mostarda brotadas do excremento que dos passarinhos caiam. Outras coisas se compravam, não se roubava e vendia; o pecado da cobiça e escassezes eram medos que ninguém lá conhecia.
Medos que mães sentiam eram da infância doençaria. Sarampo, febre alta e coqueluche que, para a proteção, recorriam aos chás das folhas de laranja da china e da cidreira, ao caldo de galinha e às benzedeiras; era com essa milagraria que as mães nos defendiam. Dos venenos que mais elas temiam eram o da picada de cobra e o dos frutos que os filhos comiam, como arrebenta-cavalo e do mato outras porcarias.
Com os perigos bem vigiados e com o futuro por Deus garantido, o pior de todos os medos era o da vara de marmelo, quando boa coça se levava se em confusão a gente se metia. Meu mundaréu de medo de outrora não dou, nem vendo ou troco por este pavor de agora; por este ódio de gente que dispara a besteira da ganância e da vingança brutal, que nos vitima e nos responsabiliza por sua deformação ancestral, suas deficiências mental, ética e social.
Publicado com imagem em:
Pote de Poesias
e Ecos da Poesia
Soaroir
Enviado por Soaroir em 08/04/2007
Reeditado em 09/04/2007
Código do texto: T442103
Reeditado em 09/04/2007
Código do texto: T442103
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