Tempo de Cais



Conforme o tempo avança
lembro-me cada vez mais
do tempo quando eu criança
corria ao sol no cais.
Vau que inda hoje aliança
amigos, parentes e pais
outros de minha privança
liames de mesmos ais.


Soaroir Maria de Campos
  10/12/06

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Invoco o Louco

(coleção Perdidos na Net)

Invoco o Louco

©Soaroir


Eu, pouco, muito pouco faria se tivesse quatro mãos, se fosse o único humano a tê-las; me tornaria  handicapped, deficiente, aleijão, matéria de pesquisa, atração. Idem se não agir como todo mundo. Mas agora basta de amar outros amores, mandar flores para os defuntos, chorar sobre sepulturas alheias. Estou enterrando meus próprios mortos, mudando da tradição a mania. Rasgo aqui minhas listas de promessas e esperas. Vou me amar de verdade; parar de fingir, que acredito, que família é tudo igual, que virtual é real e que poesia é estética; de pensar e agir como papagaio; largo o bando de seriemas e piaçocas e  paro de revolver ciscos, catar insetos, engolir sapos. Cansei de avoar em bando. Desço para o meu posto e assumo que não me apraz ouvir bordões, citações de famosos morridos e matados, frases feitas e aplaudir a escassez de originalidade.
Por tudo isso é que às vezes me grito quando me indagam como me chamo. Sou tanto largado entre a maioria dos que me chamam de muitos nomes ao mesmo tempo! Mas eu me creio e por isso agora eu me chamo para esvaziar a lixeira, e o resto da caixa de entrada marcar como spam.
Basta de Ctrl C e V, filosofar, rimar meus versos com outras rimas. Pode até ser besteira, mas se troco o café, o açúcar, a cachaça e o cigarro por ansiolítico medicamentoso, como fica meu estado de alerta contra a ignorância de tudo e todos?
Importava-me com tudo e todos apesar da ignorância deles. Agora é tarde. De acordo com o CID-10 possuo F33.2, direito adquirido de invocar o louco.
©Soaroir
01/01/2012



          Louco, sim, louco, porque quis grandeza
          Qual a Sorte a não dá.
          Não coube em mim minha certeza;
          Por isso onde o areal está
          Ficou meu ser que houve, não o que há.

          Minha loucura, outros que me a tomem
          Com o que nela ia.
          Sem a loucura que é o homem
          Mais que a besta sadia,

          Cadáver adiado que procria?

QUINTA / D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL ~Fernando Pessoa



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