Dia da Mulher - Diga Não à Opressão
(perdidos na net)
“Time to Say No”
Diga Não à Opressão!
S.O.S. Para as Mulheres Sertanejas
By Soaroir de Campos
Março/2013
Meu background bem me permite saber o que é ter uma VIDA seca e, pelo 38º (ONU) Dia Internacional da Mulher, peço vênia para rogar por aquelas dos sertões (¹) brasileiros.
Não que outras de áridas culturas e lugares mereçam menos socorro, entre tantas as indianas, onde "Meninas são inferiores. Fardos. São mais fracas para o trabalho braçal. Valem menos do que um touro. Não cuidarão dos parentes idosos, se necessário. Tornam-se cidadãs de 2ª classe, a seguirem seus maridos como cães... Não merecem ser ouvidas, vistas ou respeitadas”.~ Rama Mani*
Entretanto, nasci neste continente sul americano onde desfrutamos de toda a liberdade que nos propõem e a nós dispõem. Por aqui estudar não é proibido, pelo contrário, o incentivo aos estudos garantiu ao nosso ex-presidente, já com 80 títulos, mais uma vez ser intitulado Doutor Honoris Causa. Neste solo a lei nos garante o divórcio, ser gay ou lésbica depende do livre arbítrio, ser macumbeiro ou testemunha de Jeová também. Mas, ainda, temos sonhos. Os meus foram pisar no sagrado chão das inacessíveis catedrais, dividir os palcos com as ciências e com as artes imortais e, a qualquer custo, me manter distante da frisa dos ignorantes. Quase desisti diante dos desafios, logo após o primeiro ato.
A Grande Muralha da China, Machu Picchu, Everest, ah, nada que me tirasse o fôlego constava de meus projetos. Talvez ir a Jordânia ver de perto o monumento de Petra, voltar ao Rio e fazer poesia sob os Arcos da Lapa... Coisas assim, simples, de meros mortais foi o que sonhei... Mas eu me quedei em prol da educação de meus dois filhos hoje cientistas. Mas isso faz décadas. Hoje estou velha e pouco, efetivamente pouco vejo para o futuro da mulher anciã. E garanto: é coprológico envelhecer independentemente do lugar. Tem a volta do velho bidê, criados mudos e geriátricos panos de fundo; buço grosso em lábios finos, gengiva baixa em boca murcha; corpo leve em amplo colchão marcado por lembranças e manchas de tempos e de corpos dantes perfumados de “Royal Brial” e “Old Spice”. Contudo, diante do meu prato cheio, da água mineral, do gás encanado e dos recursos providos pela tecnologia, eu ainda sonho, mas sigo em frente lambuzada de protetor solar para desestimular o lúpus eritematoso. Diferentemente da irmã sertaneja que de couro curtido, após um dia de labuta, se estira em uma tarimba, que com sorte, coberta por uma esteira de tabúa.
Para ela, o seu maior sonho não é ter de volta os dentes, já que o que lhe sobrou para mastigar foram os mesmos sobejos engolidos por seus ascendentes. Tampouco ser analfabeta lhe pesa. Ela - não canta ou dança ao folclórico som mais conhecido de sua região - ajoelha-se e pede a Deus que não permita que suas tripas consumam sua fé enquanto aguarda por uma cuia de maná - limpa os olhos marejados, encardidos, amarelados pela fumaça da lamparina e a inanição e replica que Ele tenha piedade e mande chuva para que a cacimba volte a minar e o milho e o feijão voltem a brotar.
Em seu casebre de chão batido e cobertura de sapê, ela se roça no fogão a lenha balangando no ar a magra mão sobre uma velha vasilha enferrujada com resquícios do último ensopando de caruru fervido na água apodrecida. E reza: por um caminhão pipa, por água para beber – bolsa família (75,00) seria uma benção, se tivesse onde comprar uns grãos -. Oh Deus! Ela treplica, só queria ver a terra brotar (antes que nela eu me deite) e através de meu suor calar a boca do meu estômago e a dos meus filhos famintos.
E, como seus antepassados, esperança em seu “Padin Padre Ciço” de não ser enterrada como indigente e solta o ultimo suspiro prometendo aos filhos que um dia tudo ainda vai miorá.
(Texto sem revisão)
¹ 1. Lugar inculto, afastado de povoações.
2. Floresta no interior de um continente, longe da costa.
* Rama Mani é escritora, diretora de cursos do Centro de Política de Segurança de Genebra e membro do Conselho da “Coalizão Global: Mulheres Defendendo a Paz”, autora dos livros de jornalismo político, entre outros, Beyond Retribution: seeking justice in the shadows of war (2002) e Physically Handicapped in Índia, policy programme (1988).
Mini Biografia:
Soaroir Maria de Campos – Campos dos Goytacazes – RJ,/Brasil 1947. Entre contos e crônicas tem nove antologias de poemas publicadas. Professora aposentada é membro da AVSPE, Poetas del Mundo, Recanto das Letras, Luso Poemas, e outros.
Blog: http://pote-de-poesias.blogspot.com.br/
E-mail: soaroir@yahoo.com
(Para: Pen Club.at)