Tempo de Cais



Conforme o tempo avança
lembro-me cada vez mais
do tempo quando eu criança
corria ao sol no cais.
Vau que inda hoje aliança
amigos, parentes e pais
outros de minha privança
liames de mesmos ais.


Soaroir Maria de Campos
  10/12/06

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Coisas de Cotovia

(Perdidos na Net)

COISAS DE COTOVIA

Soaroir 2006
 
Eu, Cotovia

Outro dia ouvi dizer que Deus perdoa mais àqueles que amam demais, e que são palavras de Jesus. Não há como duvidar, já que foi Ele quem também disse amai-vos uns aos outros. No entanto, para esta receita Ele não disse o que fazer com o que vai sendo desconsiderado, já que em toda essa massa os ingredientes levedam juntos, mas nem sempre crescem do mesmo modo. Eu pergunto, mas é silêncio até do vento.Do relógio que já não faz mais tic-tac. Só os periquitos ao longe dão sinal de existência, porém não respondem:

- Não tem mais caniço ou samburá; pescas de juquiá, sardinhas soltas no mar; ou girinos no riacho; nem mais pés de cambucá. Não há mais pisar descalço na areia nem outros com quem, sem medo, arrulhar.

Ao longe canta ininterruptamente um canário de sua gaiola. Cantaria ele de tristeza pela prisão ou em busca de companhia? Ou é só por coragem de sentir dor? Por não mais poder voar? Não entendo de coisas de canários, somos passarinhos diferentes, mas quisera poder interpretar!

Eu, cotovia fujona, desviada e debandada, sou agora livre retirante. Poderia voar se quisesse, mas não sei /por/ para aonde ir. Acostumei me a não depender do sol para acordar ou da noite para me recolher, nem da chuva sei mais como me proteger. Com as garras já carcomidas não posso mais nidificar e minha bela plumagem, outrora brilhante, necessária para me acasalar, há muito se desbotou. Nem mesmo a minha melodia eu sei mais como entoar! Sou mais uma cotovia que desaprendeu se sustentar.

Ha /vejo ainda alguns sabiás que, não estando, sendo mais do cerrado, ciscam procurando o que podem achar, beliscando nos capins que transportaram pra cá. Mas, outro dia soube, ouvi que um partiu molestado: aspirou mais do que podia do que achou enterrado, e lhe consumindo o sistema, ele agonizou  envenenado.

Mas eu? Cotovia? Ah! Se eu desse vazão ao instinto... Arribaria ao amanhecer já que não estou mais engaiolada. Mas, desaprendi de amar, e não posso mais avoar... Deus, Vós podeis, poderias? A este(a) também perdoar?

Coisas de cotovias...

$oaroir,Maria de Campos
22/01/2006

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