Tempo de Cais



Conforme o tempo avança
lembro-me cada vez mais
do tempo quando eu criança
corria ao sol no cais.
Vau que inda hoje aliança
amigos, parentes e pais
outros de minha privança
liames de mesmos ais.


Soaroir Maria de Campos
  10/12/06

terça-feira, 25 de junho de 2013

Chorar, quantas maneiras tem

Perdidos na Net

Chorar ,quantas maneiras tem...
(patriótico e pós moderno)
©Soaroir - nov. 2006

outro choro que incomoda
a gente nem gosta de alembrar
fora da nossa terra, morando noutro lugar
vendo  nossa  bandeira subindo
a gente se bota a chorar antes mesmo de hastear!
a gente que tava se rindo...não agüenta segurar
sente a lágrima caindo... e dá vontade de voltar
©Soaroir - nov. 2006

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Tributo aos Elefantes

TRIBUTO AOS ELEFANTES

 
 
A METEMPSICOSE DA ALIÁ

Vermelho embrechado no couro
marcas como brasões
d´uma peleja sem louro
travada contra leões
Sangue como estrada
corre na pele dura
depois da  presa fincada
segue a aliá exangue
exaurida a noite escura
pra trás deixando seu sangue
enquanto a força dura
até que a carcaça tombe
trilhada por leões algozes
de insaciáveis fome
Ao panteon d´outras vidas
regressando como ebome
segue aliá sem feridas
no espaço que não consome.

Soaroir Maria de Campos 
em 08/07/2006
RL/Código do texto: T190042                    
          

sábado, 22 de junho de 2013

Gritos do Paraiso

        (Perdidos na Net)          

GRITOS DO PARAISO NO ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO

1
Soaroir Maria de Campos · São Paulo, SP
01/08/2006 - 25/1/2009 · 56 · 1
 
Calçadas da Rua Manoel da Nóbrega

É possível que as primeiras calçadas, como as que conhecemos hoje, tenham surgido juntamente com o sistema de pavimentação criado nos idos de 1800, pelo engenheiro escocês Thomas Telford.

O fato é que todas têm abordagens diferentes e nem sempre concordam inteiramente quanto às suas valias. Apesar de haver muita resistência, a maioria ainda acredita que sua serventia é a de ser “sidewalk” um caminho pavimentado para pedestres e que se estende ao longo das ruas.

Reunidas no talude e cercadas de bastante verde ao redor, com recipientes para detritos intactos e jardins bem cuidados, estavam as calçadas da rua Manoel da Nóbrega e algumas ruas transversais que discutiam e decidiam suas intenções, reclamações e queixas. Aliás, as calçadas mais esfarrapadas, entre elas as que ficam entre a mais paulista das avenidas e a mais emporcalhada das alamedas, praguejavam e planejavam algum ato de protesto quando foram interrompidas pela Dr. Carlos Sampaio que pediu um pouco de ordem.

A Cel.Oscar Porto, como sempre esfregando continuamente as solas, pigarreou como para ser ouvida e, ainda tentando fazer desaparecer todo aquele fedor misto de urina e creolina logo sugeriu uma CPI. Nesse meio tempo chega a esbaforida Chris Tronbjerg que foi logo reclamando do monte de resto de assaltos, dos barulhos das trombadas e atropelamentos logo ali na Brigadeiro, lixo e tudo mais. As demais que já não a suportam muito por ser a rua mais recente da redondeza, a mais curta e que além de ter nome que não é de brasileira é exatamente dela que vem aquele horrível cheiro de gordura de pastel e peixe todo o sábado logo de manhã, deram uns muxoxos e voltaram ao assunto da CPI. Inicialmente decidiram por Caçambas e outras Porcarias Indesejáveis. Mas a Chris não se agüentou, interrompeu e deu a resposta que antes não lhe deram a chance. Com cara de coitada retrucou e até se gabou um pouco de ser a única que tinha carro da polícia no jornaleiro, antes das minas e dos manos chegarem. Isso sem contar que aquele pastel enche bucho de muita gente por ali, concluiu a Chris. A platéia ficou dividida, meio pensativa como que analisando aqueles fatos que tinham sido narrados. O tempo estava correndo, mas ruas e calçadas que se prezam não podem se dar ao desfrute de divagar. The show must go on. Convocaram a Santos que até aquele momento pouco dissera. Ela parecia tristonha e até meio encabulada já que não fazia parte daquele bloco, no entanto tomou fôlego e discorreu com brilhantismo sobre todos aqueles ônibus dos hotéis estacionados, caminhões circulando constantemente, buracos, restaurantes e tudo o mais que por ela já havia passado. Não estava nada animada, principalmente quando recordou os velhos tempos em que, com a sua parceira Paulista, via gente bonita e cheirosa no lugar dos cocôs de cachorro e lixos de hoje. Sentia-se realmente desprezada. Arrasada. Foi deixada um pouco de lado assim que a Brig. Luiz Antonio esticou o pescoço mas, como uma enxurrada, desabou.

Aquela reunião não incluía avenidas tampouco alamedas, mas sendo a maioria ali reunida calçadas ilustres que muito conviveram com célebres transeuntes, sabiam como tratar penetras.

A temática da reunião incluía desleixo, buracos, cocô de cachorro e a falta de regulamentação para recuo e estilo das calçadas. Primeiramente queriam entender a razão pela qual havia uma distinta discriminação e preconceito para com as calçadas da ladeira para cima. Estavam realmente intrigadas. Só para as calçadas da ladeira para baixo havia limpeza, cuidados e até um certo carinho dos canteiros e, conseqüentemente, pássaros. Lá existiam lixeiras, árvores que não cobriam as luminárias e quase nenhum adesivo nos postes. Tampouco cocô de cachorro se via por lá. Embora cada calçada fosse de padrão diverso, estavam todas bem conservadas, limpas, em boa forma. Exatamente o oposto das demais.

Realmente havia uma contestação de tendências entre as calçadas da ladeira para cima e as da ladeira para baixo. Era um quadro de emoções quase líricas e vivencial que foi quebrado somente quando a Teixeira da Silva elogiou os pavões que pupilam entre a noite que vai e o dia que chega, lá pelos lados da Mário Amaral, a qual igualmente a Tutóia, não compareceu a reunião.

As calçadas da Manoel da Nóbrega, entre Oscar Porto e Av. Paulista, com um certo ar de enfado, mencionaram com displicência e desilusão o peso insuportável dos prédios que ficam cada vez mais altos. Arrematando, relataram indignadas o que era suportar, sem qualquer controle, todas aquelas caçambas, estacionamentos Zona Azul e o desatino das cadeiras espalhadas por lá nas sextas-feiras. Nem esqueceram do brechó com a Al.Santos.

Lá pelas tantas, após se cotizarem para ajudar as calçadas da ladeira para cima, recriminando veementemente todas as cadeiras nas calçadas que juntamente com vasos de plantas e postes de telefone não deixavam espaço para o pedestre, todas as calçadas, inclusive as das ruas arrabalde, decidiram enviar um e-mail para: cachorros & calcadas.br solicitando apoio para a realização daquela CPI por quarteirão, a fim de promover a adequada preservação de suas existências e a não transformação do espaço em taperas. Termos que assinaram: Os Behavioristas da Rua Manoel da Nóbrega e até pediram deferimento, o que concluímos serem seus gritos de alarme dignos de credibilidade e consideração.


DE CAMPOS, SOAROIR


Soaroir
Publicado no Recanto das Letras em 01/08/2006
Código do texto: T206862

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A Cor da Alma

(Perdidos na Net)

Minh'alma
(titulo origial)

© Soaroir 18/05/08
Caucasiana de vó e vô

De graça tenho nos olhos

O verde de muitas bandeiras

E a alma furta-cor

Cromia e sintonia de Matisse e Strauss

Fonias de tons, Jobim e semitons

Folias contrastando philias

Mistura de azeviche encarnado

E mamelucos prateados

Matizes de acordes difusos

Entre azevinhos e paus-brasil

Minha alma cora ao sol

Na luz intensa do Sul.

sábado, 15 de junho de 2013

Gritos do Paraiso

(Coleção Perdidos na Net)
Soaroir 1/8/2006

GRITOS DO PARAISO

(Original: Calçadas da Rua Manoel da Nóbrega)


É possível que as primeiras calçadas, como as que conhecemos hoje, tenham surgido juntamente com o sistema de pavimentação criado nos idos de 1800, pelo engenheiro escocês Thomas Telford.

O fato é que todas têm abordagens diferentes e nem sempre concordam inteiramente quanto às suas valias. Apesar de haver muita resistência, a maioria ainda acredita que sua serventia é a de ser “sidewalk” um caminho pavimentado para pedestres e que se estende ao longo das ruas.

Reunidas no talude e cercadas de bastante verde ao redor, com recipientes para detritos intactos e jardins bem cuidados, estavam as calçadas da rua Manoel da Nóbrega e algumas ruas transversais que discutiam e decidiam suas intenções, reclamações e queixas. Aliás, as calçadas mais esfarrapadas, entre elas as que ficam entre a mais paulista das avenidas e a mais emporcalhada das alamedas, praguejavam e planejavam algum ato de protesto quando foram interrompidas pela Dr. Carlos Sampaio que pediu um pouco de ordem.

A Cel.Oscar Porto, como sempre esfregando continuamente as solas, pigarreou como para ser ouvida e, ainda tentando fazer desaparecer todo aquele fedor misto de urina e creolina logo sugeriu uma CPI.  Nesse meio tempo chega a esbaforida Chris Tronbjerg que foi logo reclamando do monte de resto de assaltos, dos barulhos das trombadas e atropelamentos logo ali na Brigadeiro, lixo e tudo mais.  As demais que já não a suportam muito por ser a rua mais recente da redondeza, a mais curta e  que além de ter nome que não  é de brasileira  é exatamente  dela que vem aquele horrível cheiro de gordura de pastel e peixe  todo o  sábado logo de manhã, deram uns muxoxos e voltaram ao assunto da CPI. Inicialmente decidiram por Caçambas e outras Porcarias Indesejáveis. Mas a Chris não se agüentou, interrompeu e deu a resposta que antes não lhe deram a chance. Com cara de coitada retrucou e até se gabou um pouco de ser a única que tinha carro da polícia no jornaleiro, antes das minas e dos manos chegarem. Isso sem contar que aquele pastel enche bucho de muita gente por ali, concluiu a Chris. A platéia ficou dividida, meio pensativa como que analisando aqueles fatos que tinham sido narrados.  O tempo estava correndo, mas ruas e calçadas que se prezam não podem se dar ao desfrute de divagar. The show must go on. Convocaram a Santos que até aquele momento pouco dissera. Ela parecia tristonha e até meio encabulada já que não fazia parte daquele bloco, no entanto tomou fôlego e discorreu com brilhantismo sobre todos aqueles ônibus dos hotéis estacionados, caminhões circulando constantemente, buracos, restaurantes e tudo o mais que por ela já havia passado. Não estava nada animada, principalmente quando recordou os velhos tempos em que, com a sua parceira Paulista, via gente bonita e cheirosa no lugar dos cocôs de cachorro e lixos de hoje. Sentia-se realmente desprezada. Arrasada.   Foi deixada um pouco de lado assim que a Brig. Luiz Antonio esticou o pescoço mas, como uma enxurrada, desabou.

Aquela reunião não incluía avenidas tampouco alamedas, mas sendo a maioria ali reunida calçadas ilustres que muito conviveram com célebres transeuntes, sabiam como tratar penetras.

A temática da reunião incluía desleixo, buracos, cocô de cachorro e a falta de regulamentação para recuo e estilo das calçadas. Primeiramente queriam entender a razão pela qual havia uma distinta discriminação e preconceito para com as calçadas da ladeira para cima. Estavam realmente intrigadas. Só para as calçadas da ladeira para baixo havia limpeza, cuidados e até um certo carinho dos canteiros e, conseqüentemente, pássaros. Lá existiam lixeiras, árvores que não cobriam as luminárias e quase nenhum adesivo nos postes. Tampouco cocô de cachorro se via por lá. Embora cada calçada fosse de padrão diverso, estavam todas bem conservadas, limpas, em boa forma. Exatamente o oposto das demais.

Realmente havia uma contestação de tendências entre as calçadas da ladeira para cima e as da ladeira para baixo.  Era um quadro de emoções quase líricas e vivencial que foi quebrado somente quando a Teixeira da Silva elogiou os pavões que pupilam entre a noite que vai e o dia que chega, lá pelos lados da Mário Amaral, a qual igualmente a Tutóia, não compareceu a reunião.

As calçadas da Manoel da Nóbrega, entre Oscar Porto e Av. Paulista, com um certo ar de enfado, mencionaram com displicência e desilusão o peso insuportável dos prédios que ficam cada vez mais altos. Arrematando, relataram indignadas o que era suportar, sem qualquer controle, todas aquelas caçambas, estacionamentos Zona Azul e o desatino das cadeiras espalhadas por lá nas sextas-feiras. Nem esqueceram do brechó com a Al.Santos.

Lá pelas tantas, após se cotizarem para ajudar as calçadas da ladeira para cima, recriminando veementemente todas as cadeiras nas calçadas que juntamente com vasos de plantas e postes de telefone não deixavam espaço para o pedestre, todas as calçadas, inclusive as das ruas arrabalde, decidiram enviar um e-mail para: cachorros & calcadas.br solicitando apoio para a realização daquela CPI  por  quarteirão, a fim de promover a adequada preservação de suas existências e a não transformação do espaço em taperas. Termos que assinaram: Os Behavioristas da Rua Manoel da Nóbrega e até pediram deferimento, o que concluímos serem seus gritos de alarme dignos de credibilidade e consideração.


MARIA DE CAMPOS, SOAROIR
Soaroir
Enviado por Soaroir em 01/08/2006
Reeditado em 02/08/2006
Código do texto: T206862
Classificação de conteúdo: seguro


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (©Soaroir Maria de Campos em "link para obra original" - "data de publicação no recanto"). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.


Comentários

11/09/2009 14:53 - CARLOS AFFONSO
As calçadas de ruas que você menciona são até privilegiadas; precisa ver as da periferia, que além de descuidadas são cegas, surdas e mudas e analfabetas. Mas, como te amo São Paulo. Gostei do seu estilo. Escreves não só para massagear o seu ego, o dos outros também pelo prazer da leitura.

22/07/2009 19:49 - GU Bortolozzo
Seus textos sobre essa nossa região me agitam... gosto muito disso... necessito conhecê-la urgentemente. Bjs. GU Bortolozzo

17/10/2006 03:39 - Carlos Alberto Roldán
Qué escritura madura, la tuya, Soarir. Es un gusto la lectura de textos como los tuyos. Mis felicitaciones desde Argentina. Carlos Alberto Roldán

28/08/2006 09:21 - Eduardo Martínez
Soaroir, gosto muito de histórias (crônicas, contos e romances). E você é uma grande escritora, garota! Abraço! Eduardo Martínez

03/08/2006 19:50 - Denise Severgnini
Boa noite, poeta!Sempre com muito prazer e alegria venho até tua página para ler teu texto.A visita é breve, mas é feita com muito cainho e respeito por ti.As dores da tendinite voltaram.Beijos, Denise


Sobre a autora
Soaroir
São Paulo/SP - Brasil
883 textos (47085 leituras)
5 áudios (953 audições)
16 e-livros (5015 leituras)
(estatísticas atualizadas diariamente - última atualização em 15/06/13 17:05)

sábado, 8 de junho de 2013

Universo Retraido

(coleção Perdidos na Net)

Universo Retraído

tucalipe@hotmail.co.uk
1
Soaroir Maria de Campos · São Paulo, SP
7/8/2008 · 80 · 7
 
Universo Retraído
© Soaroir 2/8/08


“O Vestido” releio.
Visto qualquer coisa. Parto.
No quarto do meio
Procuro um veio.
Dia cheio de nada.
[Nem a poesia veio.
O mote do dia não veio.
A chuva prometida não veio.
O pastel da feira não veio.
[Sequer a vontade veio.
A palavra não veio.
O Verbo não veio.
A rolinha não veio.
[Nem a fome veio.

Será medo da liberdade?
[Não sei.

A promessa não veio.
A dor não veio.
A solidão não veio.
[Nem a tristeza veio.
A sorte não veio.
O riso não veio.
A cura não veio.
[Nem o remorso veio.
Dia cheio de nada.
A poesia não vem
Será medo da liberdade?
[Não sei.
Virei refém.
Amanhã, quem sabe...